30 août 2008

Sonhei com o nada e o nada me fodeu!


Mas, entre os corpos, há aqueles que respondem mais, por sua forma, às aspirações de tais ou quais almas. E entre as almas, há aquelas que se reconhecem mais em tais ou quais corpos. O corpo, que não sai totalmente viável das mãos da natureza, se eleva para a alma que lhe daria a vida completa. E a alma, olhando o corpo onde acredita perceber o reflexo de si mesma, fascinada como se fitasse um espelho, se deixa atrair, se inclina e cai. Sua queda é o começo da vida. Comparo, a essas almas desprendidas, as lembranças que estão à espera no fundo do inconsciente, do mesmo modo que nossas sensações noturnas assemelham-se a esses corpos apenas esboçados. A sensação é quente, colorida, vibrante e quase viva, mas indecisa. A lembrança é nítida e precisa, mas sem interior e sem vida. A sensação quer encontrar uma forma sobre a qual fixar a indecisão de seus contornos. A lembrança quer obter uma matéria para se preencher, se carregar, enfim, se atualizar. Elas se atraem mutuamente, e a lembrança-fantasma, materializando-se na sensação que lhe traz o sangue e a carne, torna-se um ser que viverá uma vida própria, um sonho.

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