25 août 2008

Egon Schiele, Diário da Prisão

PRISÃO DE NEULENGBACH, 16 DE ABRIL DE 1912

Enfim! Enfim! Enfim! Enfim, um alívio para o meu sofrimento! Enfim papel, lápis, pincéis e tintas, para desenhar e escrever. Uma verdadeira tortura, estas horas selvagens, vagas, crueis, estas imutáveis, informes horas cinzentas e monótonas que tive de viver, privado de tudo como um animal, entre quatro paredes nuas e frias.
Um ser interiormente fraco, teria certamente começado a afundar-se e também eu teria enlouquecido, se esta estagnação se tivesse prolongado por mais tempo, dia após dia.
Assim, e não obstante sentir-me terrivelmente deprimido, arrancado ao campo da minha actividade, comecei, para não me afundar completamente, a pintar com os dedos trémulos , molhados na minha saliva amarga. Utilizando as manchas do reboco, tracei cabeças e paisagens nas paredes da cela. Depois observei como os desenhos se desvaneciam pouco a pouco empalidecendo até desaparecer, na profundeza da parede, como se tivessem sido apagados por uma mão invisível, dotada de um poder mágico.
Presentemente, Deus seja louvado, tenho de novo com que pintar e escrever. Finalmente restituiram-me o meu perigoso canivete. Posso manter-me ocupado e assim suportar o que doutra forma seria insuportável. Sinto-me humilhado, rebaixado, pedi, supliquei, mendiguei para conseguir estes objetos e chagaria mesmo a choramingar se necessário. Oh! Minha arte! Que não farei eu por ti!

Egon Schiele
Diário da Prisão

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