10 août 2008

Dons da Penumbra


Tu,
que não vens,
e que - repetina no meu alheamento -
transpiraste inadiável
de profundo gesto no instante que
..................................me aponta...

Só tu não ocasionaste a descoloração
dos surtos
e cumpriste serena a harmonia
dos ditames,
que pendem num derradeiro equilíbrio...

Maciça, inatingível
Como o que transpira a cordilheira;
e contígua
- frustradora -
para os que te pegam pelos olhos
sem galgamentos fermentados de
.........................................raízes.

Ó tu,
- que das grandes energias
dos vargedos,
que da matéria bárbara que
tudo viça, escancara e umedece,
sustenta vibrações mecânicas
de teu veio a percorrer,
teus obscuros ímpetos a sublimarem-se
de dormidas origens
em plantas aquáticas e patéticas... !
Por que nunca chegaste, és só ameaça?
Por que és vaga, como a ineficácia
das pessoas que se deitaram
e nem sonhas, e nem dormes?!

Tu,
que ignoras fantásticas umidades
sob a terra, e
sponjas imóveis na aderência
...........................de profundas raízes;
sonâmbulas gelatinas num aquário,
brotadas no medieval da própria sede;
que ignora o milhão de
diminutos peixes
que vegetam transparentes na afinidade
dessas águas paralisadas e sem
.......................................dias
- irreais e latentes líquidos
bloqueadas no hálito primitivo,
nas adegas de verdes cavernas
...............................arenosas
geradas no cataclismo fóssil
de migrados granitos

Tu, que não chegas
- a menos contornada -
a que não sendo medida pelo
...............................homem,
não será jamais crestada
pela chama do poema...

De todas - a que caminha
em subterrâneos sem vozes
a que nivela
sem genialidade nem instinto...

Espera-me nas rédeas curtas
desse meu vacalo que parou
e bebe a sede
- espera-me no consentimento
no esbarro, no encontro;
ou nos gestos automatizados
que eu percebo desarticulando-se e
....................................já sem guia
naqueles que ainda se defloram
da epiderme

Espera-me
- que nas linhas da palma da estrada,
na cinza morna e esboroante da
.......................................tarde,
na proa vestida à claridade,
eu serei pálpebra de existência:
o que nem saberá explicar
a afinidade que te calca
armanezado a ti mesmo
- miserável instante que
não atinge esta vida sem princípio!

Ó tu,
branca paisagem,
que me encontrarás inexpressivo
à tua vinda,
e que recolherás na tua longa e
insípida juventude
este meu corpo vindo, atravessado
de infinitos...
Tu,
a quem peço para a forma das
minhas mãos
essa longeava plástica da penumbra...!
Diga-me,
diga-me na frase mais despida
desta simplicidade que procura,
- deste restrito que é todo origem
sem dons nem memória -;
"Para onde ir, onde ficar"?
Tudo é uniforme fora de mim...!

5 commentaires:

romulo de almeida portella a dit…

hum Mario Peixoto que poeta... meio excessivo este poema... mas compreendo...parecido contigo quanto à espera e ausência de um ser feminino...que podia ser ele mesmo, talvez...ele tinha um amante... me esqueci o nome dele. muito bonito, andava com ele na Avenida Central, nos cafés. era da sua equipe. queria saber desta história... não por fofoca mas por homens poetas e trabalhadores da arte que têm tanta extensão...

romulo de almeida portella a dit…

tanta extensão

romulo de almeida portella a dit…

lerei de novo! como voltarei a ler Vernant!

romulo de almeida portella a dit…

Limite também é extensão...

romulo de almeida portella a dit…

a editora Aeroplano ( H B de H) ia publicar sua produção... nunca mais tive notícias...