13 août 2008

Eu fiz o que pude / aos cinqüenta anos insisto na juventude, - tanto faz!

Pintor e manequim,
óleo s/ tela, 150 X 93 cm, 1987.
Coleção Maria Camargo,
Fundação Iberê Camargo


O Wenders sacou o bode do Casanova: o cara que fica full-time de pau duro, mas não goza, não perde a cabeça. A gente é assim no Brasil: bando de nêgo fissurado, priápico, tenso. A sedução vira espetáculo, ninguém fica relax. E daí, ou nêgo brocha ou fica de pescoço duro por uma semana depois de trepar pela primeira vez com uma mulher.
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Ah, antes que eu me esqueça. Tem também uma passagem sobre uma poeta marginal que chega de Londres envolta em casaco de pele, na mão a antologia poética de Emily Dickinson, que nosso herói abre a esmo...but love is tired and must sleep. A mesma que disse: "a paixão, Reinaldo, é uma fera que hiberna precariamente". Tão ligados?
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Uma poeta não pode estar dormindo a uma hora dessas. Três da madrugada, quase nada...E a vocação saturniana dos poetas malditos? O gosto pela solidão das ruas desertas da madrugada, a volúpia dos vícios mal-iluminados da alcova e do cabaré?
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Eu sou a favor da punheta. Eu acho punheta um artesanato poético: a mão e a imaginação unidas no mesmo lance. É melhor que muitos desses piciricos sem pique que a gente comete por aí.
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Agora, o que eu queria mesmo é uma literatura que fosse, como Torquato Neto, até a demência. E ficasse, como Chacal, entre o play-ground e o abismo. E tivesse a peraltice e o lirismo de Oswald. E o sabor coloquial do Mário de Andrade. Nem confissão, nem ficção. Nem obra acabada, nem obra aberta. Obra-à-toa.
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Os amantes? Bom, os amantes são aqueles canalhas adoráveis em quem o homem e a mulher pensam quando estão trepando com os respectivos cônjuges.
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Eu não sei ainda se sou um poeta ou um sentimental.

Tanto faz!
Reinaldo Moraes

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