26 déc. 2008

GIUSEPPE UNGARETTI

GIUSEPPE UNGARETTI

Vanità

D'improvviso
è alto
sulle macerie
il limpido
stupore
dell'immensità

E l'uomo
curvato
sull'acqua
sorpresa
dal sole
si rinviene
um'ombra

Cullata e
piano
franta




Fatuidade

De repente
encima-se
aos escombros
o límpido
estupor
da imensidade

E o homem
curvado
sobre a água
assomada
de sol
descobre-se
uma sombra


Fortuita e
um tanto
infracta






Sono uma creatura

Come questa pietra
del S. Michele
così fredda
così dura
così prosciugata
così refrattaria
così totalmente
disanimata

Come questa pietra
è il mio pianto
che non si vede

La morte
si sconta
vivendo





Sou uma criatura

Como esta pedra
de São Miguel
tão dura
tão fria
tão ressecada
tão refratária
tão totalmente
desanimada

Como esta pedra
fica o meu pranto
que não se vê

A morte
deduz-se
vivendo

Antonin Artaud

ANTONIN ARTAUD







Tutuguri - Le Rite du Soleil Noir

Et en bas, comme au bas de la pente amère,
cruellement désespérée du cour,
s'ouvre le cercle des six croix,
très en bas,
comme encastré dans la terre mère,
désencastré de l'étreinte immonde de la mère
qui bave.

La terre de charbon noir
est le seul emplacement humide
dans cette fente de rocher.

Le Rite est que le nouveau soleil passe par sept points
avant d'éclater à l'orifice de la terre.

Et il y a six hommes,
un pour chaque soleil,
et un septième homme
qui est le soleil tout
cru
habillé de noir et de chair rouge.

Or, ce septième homme
est un cheval,
un cheval avec un homme qui le mène.

Mais c'est le cheval
qui est le soleil
et non l'homme.

Sur le déchirement d'un tambour et d'une trompette
longue,
étrange,
les six hommes
qui étaient couchés,
roulés à ras de terre,
jaillissent successivement comme des tournesols,
non pas soleils mais sols tournants,
des lotus d'eau,
et à chaque jaillissement
correspond le gong de plus en plus sombre
et rentré
du tambour
jusqu'à ce que tout à coup on voie arriver au grand galop,
avec une vitesse de vertige,
le dernier soleil,
le premier homme,
le cheval noir avec un
homme nu,
absolument nu
et vierge
sur lui.

Ayant bondi, ils avancent suivant des méandres circulaires
et le cheval de viande saignante s'affole
et caracole sans arrêt
au faîte de son rocher
jusqu'à ce que les six hommes
aient achevé de cerner
complètement
les six croix.

Or, le ton majeur du Rite est justement

L'ABOLITION
DE LA CROIX.

Ayant achevé de tourner
ils déplantent
les croix de terre
et l'homme nu
sur le cheval
arbore
un immense fer à cheval
qu'il a trempé dans une coupure de son sang.

paru en 1925




Tutuguri - O Rito do Sol Negro

E lá embaixo, no pé da encosta amarga,
cruelmente desesperada do coração,
abre-se o círculo das seis cruzes
bem lá embaixo
como se incrustada na terra amarga
desincrustada do imundo abraço da mãe
que baba.

A terra do carvão negro
é o único lugar úmido
dessa fenda de rocha.

O Rito é o novo sol passar através de sete pontos antes de explodir
no orifício da terra.

Há seis homens,
um para cada sol
e um sétimo homem
que é o sol
cru
vestido de negro e carne viva.

Mas este sétimo homem
é um cavalo,
um cavalo com um homem conduzindo-o.

Mas é o cavalo
que é o sol
e não o homem.

No dilaceramento de um tambor e de uma trombeta longa
estranha,
os seis homens
que estavam deitados
tombados no rés do chão,
brotaram um a um como girassóis,
não sóis
porém solos que giram,
lótus d'água,
e a cada um que brota
corresponde, cada vez mais sombria
e refreada
a batida do tambor

até que de repente chega a galope, a toda velocidade
o último sol
o primeiro homem,
o cavalo negro com um
homem nu,
absolutamente nu
e virgem
em cima.

Depois de saltar, eles avançam em círculos crescentes
e o cavalo em carne viva empina-se
e corcoveia sem parar
na crista da rocha
até os seis homens
terem cercado
completamente
as seis cruzes.

Ora, o tom maior do Rito é precisamente

A ABOLIÇÃO
DA CRUZ



Quando terminam de girar
arrancam
as cruzes do chão
e o homem nu
a cavalo
ergue
uma enorme ferradura
banhada no sangue de uma punhalada.



Tradução: Claudio Willer





Poemas em glossolalia



ratara ratara ratara
atara tatara rana

otara otara katara
otara retara kana

ortura ortura konara
kokona kokona koma

kurbura kurbura kurbura
kurbata kurbata keyna

pesti anti pestantum putara
pest anti pestantum putra


* * *

potam am cram
katanam anankreta
karaban kreta
tanamam anangteta
konaman kreta
e pustulam orentam
taumer dauldi faldisti
taumer oumer
tena tana di li
kunchta dzeris
dzama dzena di li

* * *



Talachtis talachtis tsapoula
koiman koima Nara
ara trafund arakulda



*

Antonin Artaud poeta francês, nasceu em Marselha (França), em 1896, numa família de origem grega. Desde criança, sofreu com problemas de saúde, inclusive neurológicos. Aos 19 anos, foi internado num sanatório, e aos 24 tornou-se dependente de láudano. Mudou-se para a capital francesa em 1920, ingressando nos círculos de vanguarda, tendo militado, de 1924 a 1926, no grupo surrealista. Foi ator de teatro e cinema, atuando em filmes de Abel Gance, Pabst e Fritz Lang, entre outros. Dedicou-se ao Teatro Alfred Jarry, com o qual montou peças dentro de seu projeto de um Teatro da Crueldade. Viajou ao México, onde experimentou o peyote, à Bélgica e à Irlanda, entre outros países. Esteve internado em diferentes hospitais psiquiátricos, entre os anos 30 e 40, sendo submetido a seções de eletrochoque. Em 1946, conseguiu sair em liberdade, por iniciativa de um grupo de intelectuais, liderados por Breton, morrendo dois anos depois. Publicou inúmeros volumes, entre eles Heliogábalo, o Anarquista Coroado, Viagem ao País dos Taraumaras, Para Acabar com o Julgamento de Deus, Van Gogh, o Suicidado pela Sociedade e O Teatro e Seu Duplo.

Paul Eluard

PAUL ÉLUARD



LEURS YEUX TOUJOURS PURS

Jours de lenteur, jours de pluie,
Jours de miroirs brisés et d'aiguilles perdues,
Jours de paupières closes à l'horizon des mers,
D'heures toutes semblances, jours de captivité,

Mon esprit qui brillait encore sur les feuilles
Et les fleurs, mon esprit est nu comme l'amour,
L'aurore qu'il oublie lui fait baisser la tête
Et contempler son corps obeisant et vain.

Pourtant, j'ai vu lês plus beaux yeux du monde,
Dieux d'argent qui tenaient des saphirs dans leurs mains,
De véritables dieux, des oiseaux dans la terre
Et dans l'eau, je les ai vus.

Leurs ailes sont lês miennes, rien n'existe
Que leur vol qui secoue ma misère,
Leur vol d'étoile et de lumière
Leur vol de terre, leur vol de Pierre
Sur lês flots de leurs ailes,

Ma pensée soutenue par l avie et la mort.




SEUS OLHOS SEMPRE PUROS

Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos partidos e de agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas no horizonte dos mares,
De horas todas semelhantes, dias de cativeiro,

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito está nu como o amor,
A aurora que ele esquece lhe faz baixar a cabeça
E contemplar seu corpo obediente e vão.

No entanto, eu vi os olhos os mais belos do mundo,
Deuses de prata segurando safiras nas mãos,
Verdadeiros deuses, pássaros na terra
E na água, eu os vi.

Suas asas são as minhas, nada existe
A não ser seu vôo que sacode minha miséria,
Seu vôo de estrela e de luz
Seu vôo de terra, seu vôo de pedra
Sobre as ondulações de suas asas,

Meu pensamento sustentado pela vida e pela morte.


* * *


Ta chevelure d'oranges dans le vide du monde
Dans le vide des vitres de silence
Et d'ombre où mes mains nues cherchent tous tes reflets.

La forme de ton coeur est chimérique
Et ton amour ressemble à mon désir perdu.
O soupirs d'ambre, rêves, regards.

Mais tu n'as pás toujours été avec moi. Ma mémoire
Est encore obscurcie de t'avoir vu venir
Et partir. Lê temps se sert de mots comme l'amour.


Tua cabeleira de laranjas no vazio do mundo
No vazio dos vitrais pesados de silêncio
E de sombra onde minhas mãos nuas buscam todos os teus reflexos.

A forma do teu coração é quimérica
E teu amor se assemelha a meu desejo perdido.
Ó suspiros de âmbar, sonhos, olhares.

Mas tu não estiveste sempre comigo. Minha memória
Ainda está obscurecida por tê-la visto chegar
E partir. O tempo se serve das palavras como o amor.


* * *

Ta bouche aux lèvres d'or n'est pás em moi pour rire
Et tes mots d'auréole ont um sens si parfait
Que dans mes nuits d'années, de jeunesse et de mort
J'entends vibrer ta voix dans tous lês bruits du monde.

Das cette aube de soie où végète lê froid
La luxure em péril regrette lê sommeil,
Dans lês mains du soleil tous lês corps qui s'éveillent
Grelottent à l'idée de retrouver leur coeur.

Souvenirs de bois vert, brouillard où je m'enfonce
J'ai refermé les yeux sur moi, je suis à toi,
Toute ma vie t'écoute et je ne peux détruire
Les terribles loisirs que ton amour me crée.





Tua boca de lábios de ouro não está em mim para rir
E tuas palavras de auréola têm um sentido tão perfeito
Que em minhas noites de anos, de juventude e de morte
Ouço tua voz vibrar em todos os ruídos do mundo.

Nesta aurora de seda na qual vegeta o frio
A luxúria em perigo lamenta o sono,
Nas mãos do sol todos os corpos que despertam
Estremecem à idéia de reencontrar seu coração.

Lembranças de bosque verde, névoa na qual me afundo
Fechei os olhos sobre mim, estou para ti,
Toda a minha vida te escuta e eu não posso destruir
Os terríveis lazeres que teu amor criou para mim.




* * *

La terre est bleue comme une orange
Jamais une erreur lês mots ne mentent pás
Ils ne vous donnent plus a chanter
Au tour dês baisers de s'entendre
Lês fous et les amours
Elle sa bouche d'alliance
Tous les secrets tous les sourires
Et quells vêtements d'indulgence
A la croire toute nue.

Les guêpes fleurissent vert
L'aube se passé autour du cou
Un collier de fenêtres
Des ailes couvrent lês feuilles
Tu as toutes les joies solaires
Tout le soleil sur la terre
Sur les chemins de ta beauté.



A terra é azul como uma laranja
Jamais um erro as palavras não mentem
Elas não lhe dão mais para cantar
Na volta dos beijos para se entender
Os loucos e os amores
Ela sua boca de aliança
Todos os segredos todos os sorrisos
E que roupagens de indulgência
Para acreditá-la inteiramente nua

As vespas florescem verde
A aurora se enrola no pescoço
Um colar de janelas
Asas cobrem as folhas
Você tem todas as alegrias solares
Todo o sol sobre a terra
Sobre os caminhos da sua beleza



Poemas de Capitale de la Douleur (1926)

Traduções: Claudio Willer




L´Amoureuse


Elle est debout sur mês paupières
Et ses cheveux son dans les miens,
Elle a la forme de mes mains,
Elle a la couleur de mês yeus,
Elle s´englouit dans mon ombre
Comme une pierresur le ciel.

Elle a toujours les yeus ouviers
Et ne me laisse pas dormer.
Sés rêves em pleine lumière
Font s´évaporer lês soleils,
Me font rirer, pleurer et rire,
Parler sans avoir rien à dire.

(De Nourir de ne pas mourir, 1924.)


Amorosa

Ela pousa em minhas pálpebras,
Põe seus cabelos sobre os meus,
Tem a forma de minhas mãos,
Tem a cor dos meus olhos,
Se entranha em minha sombra
Como uma pedra contra o céu.

Ela nunca fecha seus olhos
Nem me deixa mais dormir.
Em pleno dia, seus sonhos
Dissipam os sóis,

Fazem-me chorar, chorar e rir,
Falar sem ter nada pra dizer.



Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

*


Paul Éluard, poeta francês, nasceu em 1895. Na juventude, participou em Paris de movimentos de vanguarda como o dadaísmo e o surrealismo. Depois, durante a II Guerra Mundial, apoiou a Resistência contra o nazismo e engajou-se nas fileiras do Partido Comunista Francês (PCF), escrevendo poemas de inspiração política e de exaltação da mulher amada. Faleceu em 1952. Entre suas obras principais estão Os Animais e Seus Homens (1920), Capital da Dor (1926), O Amor, a Poesia (1929), Os Olhos Férteis (1936), Ao Encontro Alemão (1944) e Uma Lição de Moral (1949).

Michel Houellebecq

MICHEL HOUELLEBECQ



La texture fine et délicate des nuages
Disparaît derrière les arbres ;
Et doudain c'est le flou qui précède un orage :
Le ciel est beau, hernétique comme un marbre.


A fina e delicada textura das nuvens
Desaparece por detrás das árvores;
E súbito há algo que precede a chuva:
O céu é belo, hermético como mármore.

* * *



UNE SENSATION DE FROID

Le matin était clair et absolument beau ;
Tu voulais préserver ton indépendance.
Je t'attendais em regardant les oiseaux :
Quoi que je fasse, il y aurait la souffrance.


UMA SENSAÇÃO DE FRIO

A manhã era tanto bela quanto pálida;
Você pensava só na sua independência.
À sua espera, eu ia olhando para os pássaros:
Em tudo que eu fizer haverá penitência.


* * *

LA FILLE

La fille aux cheveux noirs et aux lèvres très minces
Que nous connaissons tous sans l'avoir recontrée
Ailleurs que dans nos rêves. D'un doigt sec elle pince
Les boyaux palpitants de nos ventres créves.

A MOÇA

A moça de cabelo negro e finos lábios
Que todos conhecemos sem tê-la encontrado
Senão em sonhos. Dedos secos, ela pinça
As tripas palpitantes de nossas barrigas.

* * *

Le long fil de l'oubli se déroule et se tisse
Inéluctablement. Cris, pleurs et plaintes.
Refusant de dormir, je sens la vie qui glisse
Comme un grand bateau blanc, tranquille et hors d'atteinte.


O longo fio do esquecer desfaz-se e faz-se
Inelutável. Gritos, choros e gemidos.
Sem dormir, sinto a vida que se liquefaz
Feito um imenso barco branco indo tranqüilo.


* * *

Traces de la nuit.
Une étoile brille, seule,
Preparée pour des lointaines eucharisties.

Des destins se rassemblent, perplexes,
Immobiles.

Nous marchons je le sais vers des matins étranges.



Restos da noite.
Uma estrela brilha, só,
Pronta para longínquas eucaristias.

Destinos se confundem, perplexos,
Imóveis.

Caminhamos, eu sei, rumo a estranhas manhãs.

* * *

Tu parlais sexualité, relations humaines. Parlais-tu vraiment, en fait ? Un brouhaha nous environnait ; des mots semblaient sortir de ta bouche. Le train pénétrait dans un tunnel. Avec un lérger grésillement, un lérger retard, les lampes du compartiment s'allumèrent. Je détestais ta jupe plissée, ton maquilage. Tu étais ennuyeuse comme la vie.



Le monde apparaît, plus que jamais, homogène et stable. Le soleil de neuf heures coule lentemente dans la rue en pente douce ; les immeubles anciens et modernes se côtoient sans animosité marquée. Parcelle de l´humanité, je suis assis sur un banc. Le jardin a été rénové récemment ; on a installé une fontaine. Je ressens, sur ce banc, ma présence humaine ; ma présence humaine en face de la fontaine.



Il s'agit d'une fontaine moderne ; l'eau s'écoule entre des hémisphères gris ; elle tombe, avec lenteur, d'un hémisphère à l'autre. Entre des sphères, elle ne pourrait que glisser ; mais le choix de l'architecte s'avère plus fin : l'eau remplit progressivemente les hémisphère supèrieurs ; ceux-ci remplis, ils dégouttent doucement vers les hémisphères inférieurs ; au bout d'un temps qui me paraît variable, tout se vide d'un seul coup. Puis l'eau coule à nouveau, et le processus reprend. Avons-nous affaire à une métaphore de la vie ? J'en doute. Plus probablement l'architecte a-t-il voulu mettre en scène sa vision du mouvement perpétuel. Comme beaucoup d'autres.




Você falava sobre sexualidade, relações humanas. Será mesmo? Um burburinho nos envolvia; palavras pareciam sair de sua boca. O trem penetrava num túnel. Com um pouco de trepidação, um pouco de atraso, as luzes do compartimento acendiam. Eu detestava sua saia plissada, sua maquiagem. Você era enfadonha como a vida.



O mundo se apresenta, mais do que nunca, homogêneo e estável. O sol das nove horas desce lentamente pela ladeira; os prédios antigos e modernos estão lado a lado sem animosidade alguma. Pedaço da humanidade, estou sentado num banco. Recentemente o jardim foi reformado, instalaram uma fonte. Reconheço, sobre este banco, minha presença humana, minha presença humana frente à fonte.



Trata-se de uma fonte moderna; entre hemisférios cinzas, a água escorre, cai com lentidão de um hemisfério a outro. Entre esferas, ela poderia somente descer, mas a escolha do arquiteto se revela mais sutil: a água preenche progressivamente os hemisférios superiores; uma vez preenchidos, gotejam docemente sobre os hemisférios inferiores; ao fim de um tempo que me parece variável, tudo se esvazia de uma só vez. Depois a água escorre novamente, e o processo recomeça. Seria isso uma metáfora para a vida? Duvido. É mais provável que o arquiteto tenha desejado pôr em cena sua visão do movimento perpétuo. Como muitos outros.

*

Tradução: Leonardo Gandolfi e Vanessa Massoni da Rocha


Michel Houellebecq (1958), poeta francês, é autor de romances como Extenção do domínio da luta, Partículas elementares, entre outros. Os poemas a seguir são do livro La poursuite du bonheur, de 1992.

Paul Celan

PAUL CELAN

ZU BEIDEN HÄNDEN, da
wo die Sterne mir wuchsen, fern
allen Himmeln, nah
allen Himmeln:
Wie
wacht es sich da! Wie
tut sich die Welt uns auf, mitten
durch uns!

Du bist,
wo dein Aug ist, du bist
oben, bist
unten, ich
finde hinaus.

O diese wandernde leere
gastliche Mitte. Getrennt,
fall ich dir zu, fällst
du mir zu, einander
entfallen, sehn wir
hindurch:

Das
Selbe
hat uns
verloren, das
Selbe
hat uns
vergessen, das
Selbe
hat uns - -



PARA AMBAS MÃOS, lá
onde a estrela me cresce, longe
de todos os céus, perto
de todos os céus:
como
se vela por lá! Como
se abre o mundo para nós, no meio
entre nós.

Você está
onde seu olho está, está
em cima, está
embaixo, eu
acho saída.

Ó esse errante, vazio,
hospilateiro Centro. Separados,
eu caio em si, você
cai em mim, ambos
descambamos, vemos
através:

O
Mesmo
nos
perdeu, o
Mesmo
nos
esqueceu, o
Mesmo
nos - -




ZWÖLF JAHRE
Die wahr-
gebliebene, wahr-
gewordene Zeile: ... dein
Haus in Paris - zur
Opferstatt deiner Hände.

Dreimal durchgeatmet,
dreimal durchglänzt.
. . . . . . . . . . .

Es wird stumm, es wird taub
hinter den Augen.
Ich sehe das Gift blühn.
In jederlei Wort und Gestalt.

Geh. Komm.
Die Liebe löscht ihren Namen: sie
schreibt sich die zu.


DOZE ANOS
O veri-
ficado, veri-
tornado verso:…sua
casa em Paris - ara
onde imolar suas mãos.

Três vezes sopro-atravessado,
três vezes brilho-atravessado.
. . . . . . . . . . .

Fica-se mudo, fica-se surdo
atrás dos olhos.
Eu vejo o veneno florir.
Em todo tipo de palavras e formas.

Vai. Vem.
O amor apaga o nome: por
você ele assina embaixo.




MIT ALLEN GEDANKEN ging ich
hinaus aus der Welt: das warst du,
du meine Leise, du meine Offne, und -
du empfingst uns.

Wer
sagt, daß uns alles erstarb,
da uns das Auge brach?
Alles erwachte, alles hob an.

Groß kam eine Sonne geschwommen, hell
standen ihre Seele und Seele entgegen, klar,
gebieterisch schwiegen sie ihr
ihre Bahn vor.

Leicht
tat sich dein Schoß auf, still
stieg ein Hauch in den Äther,
und was sich wölkte, wars nicht,
wars nicht Gestalt und von uns her,
wars nicht
so gut wie ein Name?


COM TODOS OS PENSAMENTOS saí
para fora do mundo: você lá estava,
você minha silenciosa, minha aberta, e -
você nos recebeu.

Quem
disse, que tudo pra nós morreu
quando o olho se refratou em nós?
Tudo despertou, tudo se alçou.

Grande veio deslizando um sol, claras
ficaram contra ele, claro, alma e alma,
imperiosas calaram-lhe
sua órbita.

Leve,
abriu-se o seu seio, sereno
subiu um sopro no éter,
e o que se anuviou não foi,
não foi forma, e saído de nós,
não foi
tão bom quanto um nome?


DIE SCHLEUSE

Über aller dieser deiner
Trauer: kein
zweiter Himmel.
. . . . . . . . . . .

An einen Mund,
dem es ein Tausendwort war,
verlor -
verlor ich ein Wort,
das mir verblieben war:
Schwester.

An
die Vielgötterei
verlor ich ein Wort, das mich suchte:
Kaddisch.

Durch
die Schleuse mußt ich,
das Wort in die Salzflut zurück -
und hinaus- und hinüberzuretten:
Jiskor.


A ECLUSA

Sobre todo esse seu
luto: nenhum
segundo céu.
. . . . . . . . . . .

Em uma boca,
para a qual havia uma pluripalavra,
perdi -
perdi uma palavra,
que me havia restado:
irmã.

Na
crença em muitos deuses,
perdi uma palavra, que me buscava:
Kaddisch.

Pela
eclusa tive que trazer
a palavra ao fluxo salobre
transpor e salvar:
Jiskor.


STUMME HERBSTGERÜCHE. Die
Sternblume, ungeknickt, ging
zwischen Heimat und Abgrund durch
dein Gedächtnis.

Ein fremde Verlorenheit war
gestalthaft zugegen, du hättest
beinah
gelebt.


MUDOS ODORES DE OUTONO. A
flor estrela, indobrável, passou
entre pátria e abismo por
sua memória.

Um estranho abandono estava
ali se formando, você
quase
viveu.


Traduções: Adalberto Müller (do livro inédito Rosa de ninguém, a sair em 2005)




ENGFÜHRUNG




VERBRACHT ins
Gelände
mit der untrüglichen Spur:

Gras, auseinandergeschrieben. Die Steine, weiß,
mit den Schatten der Halme:
Lies nicht mehr - schau!
Schau nichr meht - geh!

Geh, deine Stunde
hat keine Schwestern, du bist -
bist zuhause. Ein Rad, langsam,
rollt aus sich selber, die Speichen
klettern,
klettern auf schwärzlichem Feld, die Nacht
braucht keine Sterne, nirgends
fragt es nach dir.




Nirgends
fragt es nach dir -

Der Ort, wo sie lagen, er hat
einen Namen - er hat
keinen. Sie lagen nicht dort. Etwas
lag zwischen ihnen. Sie
sahn nicht hindurch.

Sahn nicht, nein,
redeten von
Worten. Keines
erwachte, der
Schlaf
kam über sie.




Kam, kam. Nirgends
fragt es -

Ich bins, ich
ich lag zwischen euch, ich war
offen, war
hörbar, ich tickte euch zu, euer Atem
gehorchte, ich
bin es noch immer, ihr
schaft ja.




Bin es noch immer -

Jahre.
Jahre, Jahre, ein Finger
tastet hinab und hinan, tastet
umher:
Nahtstellen, fühlbar, hier
klafft es weit auseinander, hier
wuchs es wieder zusammen - wer
deckte es zu?




Deckte es
zu - wer?

Kam, kam.
Kam ein Wort, kam,
kam durch die Nacht,
wollt leuchten, wollt leuchten.

Asche.
Asche, Asche.
Nacht.
Nacht-und-Nacht. - Zum
Aug geh, zum feuchten.




Zum
Aug geh,
zum feuchten -

Orkane.
Orkane, von je,
Partikelgestöber, das andre,
du
weißts ja, wir
lasens im Buche, war
Meinung.

War, war
Meinung. Wie
faßten wir uns
an - an mit
diesen
Händen?

Es stand auch geschrieben, daß.
Wo? Wir
taten ein Schweigen darüber,
giftgestillt, groß,
ein
grünes
Schweigen, ein Kelchblatt, es
hing ein Gedanke an Pflanztliches dran -
grün, ja,
hing, ja,
unter hämischem
Himmel.

An, ja,
Pflanzliches.

Ja,
Orkane. Par-
tikelgestöber, es blieb
Zeit, blieb,
es beim Stein zu versuchen - er
war gastlich, er
fiel nicht ins Wort. Wie
gut wir es hatten:

Körnig,
körnig und faserig. Stengelig,
dicht;
traubig und strahlig; nierig,
plattig und
klumpig; locker, ver-
ästelt -: er, es
fiel nicht ins Wort, es
sprach,
sprach gerne zu trockenen Augen, eh es sie schloß.

Sprach, sprach.
War, war.

Wir
ließen nicht locker, standen
inmitten, ein
Porenbau, und
es kam.

Kam auf uns zu, kam
hindurch, flickte
unsichtbar, flickte
an der letzten Membran,
und
die Welt, ein Tausendkristall,
schoß an, schoß an.




Schoß an, schoß an.
Dann -

Nächte, entmischt. Kreise,
grün oder blau, rote
Quadrate: die
Welt, setzt ihr Innerstes ein
im Spiel mit den neuen
Stunden. - Kreise,
rot oder schwarz, helle
Quadrate, kein
Flugschatten,
kein
Meßtisch, keine
Rauchseele steigt und spielt mit.



Steigt und
spielt mit -

In der Eulenflucht, beim
versteinerten Aussatz,
bei
unsern geflohenen Händen, in
der jüngsten Verwerfung,
überm
Kugelfang an
der verschütteten Mauer:

sichtbar, aufs
neue: die
Rillen, die

Chöre, damals, die
Psalmen. Ho, Ho-
sianna.

Also stehen noch Tempel. Ein
Stern
hat wohl noch Licht.
Nichts,
nichts ist verloren.

Ho-
sianna.

In der Eulenflucht, hier,
die Gespräche, taggrau,
der Grundwasserspuren.




(- - taggrau,
der
Grundwasserspuren -

Verbracht
ins Gelände
mit
der untrüglichen
Spur:

Gras.
Gras,
auseinandergeschrieben.)



STRETTO



Arras
t ados
na terra:
com o rastro
inequívoco.

Grama, escrita disse-
minada. As pedras, brancas,
com a sombra dos talos:
Não leia - veja!
Não veja - vá!

Vá, sua hora
não tem par, você é -
está em casa. Uma roda, lenta,
se desenrola, o eixo
atropela,
atropela o campo negro, a noite
dispensa estrelas, nada
a chamar.



Nada
a chamar -

O lugar, onde jaziam, ele leva
um nome - ele não leva
nenhum. Já não jaziam lá. Algo
havia entre
eles. Não entreviam.

Não viam, não,
falavam de
verbos. Nenhum
acordou - o
sono
vinha.



Vinha, vinha. Nada
a chamar -

Sou eu, eu,
entre vocês, eu estava
aberto, audível, com-
passava, seu respiro
seguia, ainda
sou eu, vocês
dormem, sim.



Ainda sou eu -

Anos.
Anos, anos, um dedo
tateia de cabo a rabo, tateia
em torno:
Cicatriz, saliente, aqui
abre em fenda, aqui
se fecha - quem en-
cobriu?



Encobriu -
quem?

Vinha, vinha.
Vinha uma palavra, vinha,
vinha noite adentro,
queria luzir, queria luzir.

Cinza.
Cinza, cinza.
Noite.
Noite-e-noite. Siga
ao olho,
ao úmido.



Siga
ao olho,
ao úmido -
Tornados.
Tornados, desde,
turbilhão de partículas, o outro,
lembra?, lemos
no livro, era ponto
de vista.

Era, era
ponto de vista. E nos
tocávamos -
tocávamos com
essas
mãos?

Estava escrito que.
Onde? Guardamos
silêncio, conta-
minado, des-
medido, um
silêncio
verde, um cálice
com algo de vegetal até -

verde, é,
algo, sim,
sob um céu
suspeito.

Até
de vegetal.

Sim.
Tornados, tur-
bilhão de partículas, restava
tempo, restava
tentar pela pedra - ela
era discreta, não
cortava a palavra. Nós
sim é que
íamos bem:

Algo de
granuloso,
granuloso e fibroso. Membranoso,
cerrado;
aglutinado e radiado; amebóide,
elipsóide e
amorfo; lasseado, rami-
ficado -: nem ela,
nem nada
cortava a palavra, algo
falava,
queria falar ao olho,
ao seco,
antes de fechar.

Falava, falava.
Era, era.

Não
cedíamos, plantados
bem no meio, mono-
lito poroso, e
vinha.

Veio até nós, atraves-
sou, cerziu
invisível, cerziu
até a última membrana,
e
o mundo, um
multicristal, dis-
parou, disparou.




Disparou, disparou.
Depois -
Noites, de-
cantadas. Círculos,
verdes ou azuis, quadrados
vermelhos: o
mundo põe seu centro
em jogo
com as horas novas. - Círculos
vermelhos ou pretos, claros
quadrados, sem
sombra de vôo
sem
prancha, sem
aura de fumaça sobe e se envolve.



Sobe e
se envolve -

De madrugada, pela
morfética pedra,
com nossas mãos
fugidias,
em recente repúdio,
na mira, para lá
do muro
ruído:

à vista, de
novo: os
sulcos os

coros, de então, os
salmos. Ho-, ho-
sana.

Então ainda
há templos em pé. Uma
estrela ainda luz.
Nada,
nada está perdido.


Ho-
sana.

De madrugada,
aqui, as conversas, gris-dia,
à marca d´água.


(- - gris-dia,
à marca
d´água -


Arras
t ados
na terra:
com o rastro
inequívoco.

Grama,
Grama, escrita disse-
minada.)


Tradução: Simone Homem de Mello

*


Paul Celan, pseudônimo de Paul A. Anschel (1920-1970), poeta romeno de origem judaica, cujos temas básicos são a angústia, a solidão e a morte. Preso pelas tropas alemãs em 1941, foi enviado a um campo de concentração. Após a guerra, viveu em Bucareste, Viena e Paris, onde trabalhou como tradutor. Em 1970, após um longo período de crise emocional, comete suicídio, afogando-se no rio Sena. A poesia de Celan, concisa e imagética, foi considerada, por muito tempo, obscura e hermética; hoje, o poeta é considerado um dos criadores mais notáveis da poesia de língua alemã do século XX, ao lado de Rilke e Trakl. Entre suas obras principais, destacam-se Ópio e Memória (1952), Prisão da Palavra (1959) e A Rosa-de-Ninguém (1963

e. e. cummings

e.e.cummings



nine birds (rising

through a gold moment) climb
ing i

nto
wintry
twi-

light
(all together a
manying
one

-ness) nine
souls
only alive with a single mys-

tery (liftingly
caught upon falling) silent!
ly living the dying of glory



nove aves (ascendendo

por um momento de ouro) sub
indo p

ela
fria
meia-

luz
(tudo junto uma
massa
un

-ida) nove
almas a
penas vivas com um só mis-


tério (solevadamente
capturadas na queda) silente!
mente vivendo o finar da glória



fl

a
tt
ene

d d

reaml
essn
esse

s wa

it
sp
i

t)(t

he
s
e

f

ooli
sh sh
apes

ccocoucougcoughcoughi

ng with me
n more o
n than in the

m



mo

n
ot
ono

de

sso
nhar
espe

rar

o
cu
sp

e)(e

s
t
as

f

igur
as es
túpidas

ttotostosstossin

do com hom
ens mais d
o que nele

s




Traduções: Paulo de Toledo

*

e. e. cummings (1894-1962), poeta norte-americano, escreveu poemas experimentais que desmembram a palavra em partículas fônicas, dispostas na página de modo geométrico, permitindo uma leitura vertical. Os poemas de cummings, que rompem com o verso e a sintaxe, inauguraram um novo campo de pesquisa para a criação poética, que desaguou, nos anos 50, na Poesia Concreta. Entre suas obras, destacam-se Tulipas e Chaminés (1923), XLI Poemas (1925), Poemas Selecionados (1938) e Poemas 1923-1954. No Brasil, foi publicada uma antologia de seus poemas com traduções de Augusto de Campos.


*

Tristan Tzara

TRISTAN TZARA




PRÉALABLE


cheveux défaits sentent la nuage de sang
de ton sang faible
lent à l'annonce de l'amour
lent
par les veines vers la vibration hospitalière
de ton sang
lent
fièvre faible hypothèse sans amour
dort sans paupières le poids à cotê
sur l'échelle des côtes la toux
balbutie sa petite répétition arithmétique




PRELIMINAR


cabelos desfeitos sentem a nuvem de sangue
do teu sangue frágil
lenta ao presságio do amor
lenta
pelas veias rumo à vibração hospitaleira
do teu sangue
lenta
febre frágil hipótese sem amor
dorme sem pálpebras os pés de lado
sobre a escala das costelas a tosse
balbucia sua pequena repetição aritmética





JE ME SUIS IMPRÉGNÈ


je me suis imprégné de ta presence
je me forme en toit et me transforme
je baigne dans le parfum sédentaire de tes vins
mais mille chèvres basculent dans le vide
et s'accrochent aux parois de ton chant
quand se lève l´aurore de ta voix
il n'y a plus de nuit puisque tout est conscience
et ferveur scintillante
c'est à travers toi que les arbres sont em fleur
et déjà le printemps se réveille grellotant du froid
dépassé
tout oubli prend sa racine dans ton rire
tête haute je m'enfonce dans le fôret frémissante
de ta joie




EU ESTOU IMPREGNADO


eu estou impregnado da tua presença
eu me formo em tudo e me transformo
eu me banho no perfume sedentário de teus vinhos
mas mil cabras oscilam no vazio
e se penduram nas paredes do teu canto
quando se levanta a aurora da tua voz
já não há mais a noite pois tudo é consciência
e fervor cintilante
é através de ti que as árvores florescem
e a primavera já desperta tremendo do frio
que passou
todo esquecimento se enraiza no teu riso
fronte erguida eu penetro na floresta estremecida
da tua alegria





LES FÊNETRES SE OUVRAIENT


les fênetres s'ouvraient sur une herbe de rêve
enchevêtrées parmi les courses de l'eau
au feu des briques sauvages
trempaient dans le vin
les épais triomphes des couchants morcelés
bientôt la douleur ne sera plus vivante
et la dérnière lueur fauchera et son trouble
et la dure amitié qu'un ressort tendu
liait à son ombre - je n´était que son ombre-



AS JANELAS SE ABRIAM


as janelas se abriam sobre uma erva de sonho
confundidas entre os cursos da água
no calor dos tijolos selvagens
encharcavam no vinho
os espessos triunfos de poentes partidos
em breve a dor já não estará viva
e o último luar ceifará e sua emoção
e a dura amizade que uma mola em tensão
ligava à sua sombra - eu era apenas sua sombra-



VOIE


quel est ce chemin qui nous sépare
à travers lequel je tends la main de ma pensée
une fleur est écrite au bout de chaque doigt
et le bout du chemin est une fleur qui marche avec toi



VIA


qual é este caminho que nos separa
através do qual eu retenho a mão do pensamento
uma flor está escrita ao final de cada dedo
e o final do caminho é uma flor que caminha contigo



* * * * *



à l´échappée
le monde
un chapeau avec des fleurs
le monde
une bague faite por une fleur
une fleur fleur pour le bouquet de fleurs fleurs
un porte-cigarette empli de fleurs
une petite locomotive aux yeux de fleurs
une paire de gants pour des fleurs
en peau de fleurs comme nos fleurs fleurs de fleurs
et un oeuf





na escapada
o mundo
um chapéu com flores
o mundo
um anel feito por uma flor
uma flor flor para o buquê de flores flores
uma cigarreira repleta de flores
uma pequena locomotiva com olhos de flores
um par de luvas para as flores
na pele de flores como nossas flores flores de flores
e um ovo


Traduções : Virna Teixeira



*

Tristan Tzara (1896-1963), escritor francês nascido na Romênia, foi o promotor do Dadaísmo, um movimento niilista revolucionário nas artes. Posteriormente, cansado do niilismo e da destruição, envolveu-se com os surrealistas, tendo dedicado boa parte do seu tempo na reconciliação entre Surrealismo e Marxismo. Filiou-se ao Partido Comunista e à Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Esta trajetória transformou sua escrita em direção a uma poesia mais lírica. Seus poemas especulam com "a insolência mágica das palavras que possuem diversos sentidos". Publicou, entre outros títulos, Coração de gás (1921), A anticabeça (1923), O homem aproximativo (1931), A fuga (1947) e A rosa e o cão (1958).

Emily Dickinson

334

All the letters I can write
Are not fair as this -
Syllables of Velvet -
Sentences of Plush,
Depths of Ruby, undrained,
Hid, Lip, for Thee -
Play it were a Humming Bird -
And just sipped - me -


334

As cartas que eu escrevo
A esta não comparo -
Sílabas de Veludo -
Sentenças de Pelúcia,
Fundos de Rubi, cheios,
Lapa, Lábio, a Ti -
Sê qual um Colibri -
Que - me - bebericasse



441

This is my letter to the World
That never wrote to Me -
The simple News that Nature told -
With tender Majesty

Her Message is committed
To Hands I cannot see -
For love of Her - Sweet - countrymen -
Judge tenderly - of Me


441

Eis minha carta ao Mundo
Que nunca Me anotou -
Simples Novas que a Natureza -
Com Alteza contou

Eu não vejo a que Mãos
Sua Mensagem é dada -
Por Seu amor - Bons - cidadãos -
A Mim - julgais afáveis



449

I died for Beauty - but was scarce
Adjusted in the Tomb
When One who died for Truth, was lain
In an adjoining room -

He questioned softly "Why I failed"?
"For Beauty", I replied -
"And I - for Truth - Themself are One -
We Brethren, are", He said -

And so, as Kinsmen, met a Night -
We talked between the Rooms -
Until the Moss had reached our lips -
And covered up - our names -


449

Morri pelo Belo - mas mal
Me ajustara à Tumba
Quando Um que morreu por Verdade,
Pôs-se comigo junto -

Doce indagou "Por que morreu?"
"Pelo Belo", falei -
"E eu - por Verdade - que é o Mesmo -
Irmãos, somos", me disse -

E então, qual Parentes, à Noite -
Falávamos das Tumbas -
Até que o Musgo nos beijando -
Os nomes - nos cobrisse -



1052

I never saw a Moor -
I never saw the Sea -
Yet know I how the Heather looks
And what a Billow be.

I never spoke with God
Nor visited in Heaven -
Yet certain am I of the spot
As if the Checks were given -


1052

Eu nunca vi um Urzal -
Eu nunca vi o Mar -
Mas já sei eu como é a Urze
E o que é um Ondear.

Nunca falei com Deus
Nem visitei os Céus -
Mas sei chegar ao sítio Teu
Qual Mapa eu tivesse -



1577

Morning is due to all -
To some - the Night -
To an imperial few -
The Auroral light.


1577

Manhã, graças a todos -
Noite - a alguns -
A raros imperiais -
A Auroral luz.



Traduções: Thiago Ponce de Moraes

August Stramm

KAMPFFLUR

Glotzenschrecke Augen brocken wühles Feld
Auf und nieder
Nieder auf
Brandet
Sonne
Steinet Sonne
Und
Verbrandet.

(1914 ou 1915)


ZONA DE COMBATE

Assombrolhos esquadrinham campos rotos
Acima abaixo
Abaixo acima
O sol
Explode
O sol pedra
E
Desexplode.



WUNDE

Die Erde blutet unterm Helmkopf
Sterne fallen
Der Weltraum tastet.
Schauder brausen
Wirbeln
Einsamkeiten.
Nebel
Weinen
Ferne
Deinen Blick.


FERIDA

A terra sangra sob o capacete
Estrelas caem
O universo tacteia.
Calafrios rangem
Rede
Moínham solidões.
Névoa
Chora
Longe
Teu olhar.


WACHT

Die Nacht wiegt auf den Lidern
Müdigkeit falckt und neckt
Der Feind verschmiegt
Die Pfeife schmugt
Verloren
Und
Alle Räume
Frösteln
Schrumpfig
Klein.


GUARDA

A noite embala as pálpebras
O sono pisca e chispa
O inimigo farisca
O cachimbo
Faísca
E Todos os espaços
Tremem
Miúdos
Mudos.


STURMANGRIFF

Aus allen Winkeln gellen Fürchte Wollen
Kreisch
Peitscht
Das Leben
Vor
Sich
Her
Den keuchen Tod
Die Himmel fetzen.
Blinde schlächtert wildum das Entsetzen.


ASSALTO

De todos os ângulos terrores uivam querer
Ácida
A vida
Açoita
Ante
Si
Aqui
A morte arfante
Os céus farrapam.
Horror selvagem ceifa às cegas.


ZAGEN

Die Himmel hangen
Schatten haschen Wolken
Aengste
Hüpfen
Ducken
Recken
Schaufeln schaufeln
Müde
Stumpft
Versträubt
Die
Gehre
Gruft.


TEMER

Os céus pendem
Sombras sequestram nuvens
Medos
Saltam
Estreitam
Estiram
Cavam cavam
Rôta
Bôta
Resiste
A
Cava
Cova.


PATROUILLE

Die Steine feinden
Fenster grinst Verrat
Aeste würgen
Berge Sträucher blättern raschlig
Gellen
Tod.


PATRULHA

Pedras tocaiam
Janela ri traição
Galhos gatilham
Montes moitas esganam murmúrios
Guincham
Morte


Tradução: Augusto de Campos

GEORG TRAKL

KLAGE

Schlaf und Tod, die düstern Adler
Umrauschen nachtlang dieses Haupt:
Des Menschen goldnes Bildnis
Verschlänge die eisige Woge
Der Ewigkeit. An schaurigen Riffen
Zerschellt der purpurne Leib
Und es klagt die dunkle Stimme
Über dem Meer.
Schwester stürmischer Schwermut
Sieh ein ängstlicher Kahn versinkt
Unter Sternen,
Dem schweigenden Antlitz der Nacht.


CLAMOR

Sono e morte, as águias da sombra
Esvoaçam noite adentro nesta fronte:
O dourado retrato dos homens
Teriam-no tragado as ondas gélidas
Da eternidade. Em recife horrível
Esfacela-se a carne púrpura
E a voz escura clama
Sobre o mar.
Irmã de irada angústia, mira:
Uma frágil jangada naufraga
Sob estrelas, face
A face da noite que se cala.

-

NEIGE

O geistlich Wiedersehn
In altem Herbst.
Gelbe Rosen
Entblättern am Gartenzaun,
Zu dunkler Träne
Schmolz ein großer Schmerz,
O Schwester!
So stille endet der goldne Tag.


RESTO

Ó rever-se em êxtase
No outono tardio.
Rosas amarelas
Desfolham no gradil,
Em lágrima escura
Derrete-se uma grande dor,
Ó irmã!
Tão calmo finda o dourado dia.

-

DER SCHLAF

Verflucht ihr dunklen Gifte,
Weißer Schlaf!
Dieser höchst seltsame Garten
Dämmernder Bäume
Erfüllt von Schlangen, Nachtfaltern,
Spinnen, Fledermäusen.
Fremdling! Dein verlorner Schatten
Im Abendrot,
Ein finsterer Korsar
Im salzigen Meer der Trübsal.
Aufflattern weiße Vögel am Nachtsaum
Über stürzenden Städten
Von Stahl.

O SONO

Amaldiçoados, veneno escuro,
Sono branco!
Este jardim estranhíssimo
De árvores entardecentes
Fartas de serpentes, falenas,
Aranhas, morcegos.
Forasteiro! Tua sombra perdida
No crepúsculo,
Um obscuro corsário
No mar salgado da tribulação.
Esvoaçam pássaros brancos na aba da noite
Sobre cadentes cidades
De aço.

-

IN VENEDIG

Stille in nächtigem Zimmer
Silbern flackert der Leuchter
Vor dem singenden Odem
Des Einsamen;
Zaubrisches Rosengewölk.

Schwärzlicher Fliegenschwarm
Verdunkelt den steinernen Raum
Und es starrt von der Qual
Des goldenen Tags das Haupt
Des Heimatlosen.

Reglos nachtet das Meer.
Stern und schwärzliche Fahrt
Entschwand am Kanal.
Kind, dein kränkliches Lächeln
Folgte mir leise im Schlaf.


EM VENEZA

Silente no quarto noturno
Tremula em prata o candelabro
Ante o sopro canoro
Do solitário;
Rosa enfeitiçante nuvem.

Negra névoa de moscas
Escurece o espaço pétreo
E enrija-se da tortura
Do dourado dia a fronte
Do expatriado.

Inerte anoitece o mar.
Estrela e negra viagem
Esvaneceram no canal.
Criança, teu sorriso doentio
Seguiu-me suave ao sono.

11 déc. 2008

Floreandando.

É o que ela pensa enquanto se senta lá sem fazer nada?
Em que está pensando?
Quando ele pede, ela ri e diz que não está pensando em nada.
Você não pode pensar o dia inteiro,e ele concorda também.

-

Você faz cinema?
- e dá?
- Pensei que...
e pensa?

8 déc. 2008

Fernanda Vogas...




Fernada Vogas arte, pensamento, vida... Maravilhoso.

musselinosas.

só aquele que se mata tem controle de si proprio!

será?

7 déc. 2008

Junqueirando

A sensação oca de que tudo acabou
o pânico impresso na face dos nervos
o solitário inverno da carne
a lágrima, a doce lágrima impossível...
e a chuva soluçando devagar
sobre o esqueleto tortuoso das árvores

não quero mais blog.

deu-s

es

(risos)
sabe um doido meio alexander platz?
meu sorriso..
até.

30 nov. 2008

********

Terminei de ... da minha vida, agora partirei caminhando em direção ao sol, quero que me engula, me faça triangulo, redondo, assim, tortuoso na mais quente das sensações.

29 nov. 2008

Sem documento....























MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA












Acerca da irresolução*

A irresolução é também uma espécie de medo que, ao reter a alma como que numa balança sopesando as várias acções que pode desenvolver, faz com que não execute nenhuma delas, ganhando assim tempo para escolher antes de se decidir, o que, se tem algo de bom, se torna mau quando dura mais do que devido e quando gasta a deliberar o tempo que devia ser utilizado para agir. Digo, pois que é uma espécie de medo, embora possa acontecer, ao vermo-nos perante várias opções de bondade aparentemente igual, sentirmo-nos hesitantes e inseguros sem que isso nos inspire o menor receio; a verdade é que essa espécie de irresolução deriva apenas do assunto com que nos deparamos, e não de uma emoção espiritual; é que não se trata de uma paixão, ainda que o receio de falhar na escolha faça crescer a incerteza. Mas este medo é tão vulgar e tão forte em alguns de nós que, frequentemente, mesmo quando nada há para optar e apenas existe uma coisa a pegar ou largar, nos paralisa e nos põe inutilmente à procura de outras saídas; este exagero de irresolução tanto deriva do excessivo desejo de fazer bem como de uma fraqueza do entendimento, que se move na confusão e na falta de ideias claras e distintas; o remédio contra tal abuso é habituramo-nos a fazer julgamentos certeiros e precisos acerca de tudo aquilo que se nos depara, e acreditarmos que cumprimos sempre o nosso dever quando executamos o que pensamos ser melhor, mesmo que possamos avaliar muito mal.

MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA

Marcianos Invadem a terra

Pierre Alechinsky, (n. 1927) - (Grupo Cobra)
Karel Appel, (1921-2006) - (Grupo Cobra)
Jean René Bazaine, (1904 - 2001)
Roger Bissière, (1888 - 1964)
Norman Bluhm, (1921-1999)
Camille Bryen, (1902 – 1977)
Alberto Burri, (1915 - 1995)
Jean Dubuffet, (1901 - 1985)
Jean Fautrier, (1898 - 1964)
Sam Francis, (1923 - 1994)
Elaine Hamilton (n. 1920)
Hans Hartung, (1904 - 1989)
Paul Jenkins, (n. 1923)
Asger Jorn, (1914-1973) - (Grupo Cobra)
André Lanskoy, (1902 - 1976)
Georges Mathieu, (n. 1921)
Henri Michaux, (1899 - 1984)
Serge Poliakoff, (1900 - 1969)
Maria Helena Vieira da Silva, (1908 - 1992)
Pierre Soulages, (n. 1919)
Nicolas de Staël, (1914 - 1955)
Michel Tapié, (1909-1987)
Antoni Tàpies, (n. 1923)
Bram van Velde, (1895 - 1981)
Wols (Alfred Otto Wolfgang Schulze), (1913 - 1951)
William Gear, (1915-1997) - (Grupo Cobra)
Zao Wou Ki, (n. 1921)

Asger Jorn











Oluf Asger Jorn (3 março 1914-1 maio 1973) foi um membro fundador da Internacional Situacionista, e um artista prolífico e ensaísta. He was born in Vejrum , in the northwest corner of Jutland , Denmark and baptized Asger Oluf Jørgensen . Ele nasceu em Vejrum, no canto noroeste da Jutlândia, Dinamarca e batizados Asger Oluf Jørgensen.

Estranhamento

http://br.youtube.com/watch?v=BoXsxYf2UMA

;)

Berlinde de Bruyckere















Berlinde de Bruyckere nasceu em Ghent, na Bélgica, em 1964, onde vive e trabalha.
Participou com as suas esculturas, na Bienal de Veneza de 2003, no pavilhão italiano, onde obteve reconhecimento internacional. A partir daí, expôs individualmente em Zürich, na galeria Hauser & Wirth, em 2004 e na Fundação para a arte contemporânea De Pont em Tilburg, em 2005. Também em 2005, apresentou a exposição “Eén (One)” na Maison Rouge, Fundação Antoine de Galbert, em Paris. Posteriormente, em 2006 participou na 4ª Bienal de Berlim para a arte contemporânea e na exposição colectiva do centro cultural Kunsthalle em Düsseldorf. Actualmente os seus trabalhos fazem parte de uma exposição colectiva na Galeria Continua / Le Moulin na região de Paris, em Boissy-le-Châtel.