31 août 2008

Tão Longe, Tão Perto. O decurso do tempo no entardecer de um domingo ensolarado...

O tempo é curto.
Esta é a primeira.
Para a fuinha,
o tempo é traiçoeiro.
Para o herói,
o tempo é heróico.
Para a prostituta,
o tempo é apenas outra peça.
Se você for gentil,
seu tempo será gentil.
Se você estiver com pressa,
o tempo voa.
O tempo é o servo
se for você o seu mestre.
O tempo é seu deus
se você for o seu cão.
Nós somos os criadores do tempo...
as vítimas do tempo
e os assassinos do tempo.
O tempo é valioso.
Esta é a segunda coisa.

30 août 2008

Renoir em um sábado flautiamado...

criança-perdido
sonhei
com a morte
aqui estou na
vontade
imensa de chorar
passarinhos
por cá, por lá
estou descoberto
das preocupações
topa Renoir?

Sonhei com o nada e o nada me fodeu!


Mas, entre os corpos, há aqueles que respondem mais, por sua forma, às aspirações de tais ou quais almas. E entre as almas, há aquelas que se reconhecem mais em tais ou quais corpos. O corpo, que não sai totalmente viável das mãos da natureza, se eleva para a alma que lhe daria a vida completa. E a alma, olhando o corpo onde acredita perceber o reflexo de si mesma, fascinada como se fitasse um espelho, se deixa atrair, se inclina e cai. Sua queda é o começo da vida. Comparo, a essas almas desprendidas, as lembranças que estão à espera no fundo do inconsciente, do mesmo modo que nossas sensações noturnas assemelham-se a esses corpos apenas esboçados. A sensação é quente, colorida, vibrante e quase viva, mas indecisa. A lembrança é nítida e precisa, mas sem interior e sem vida. A sensação quer encontrar uma forma sobre a qual fixar a indecisão de seus contornos. A lembrança quer obter uma matéria para se preencher, se carregar, enfim, se atualizar. Elas se atraem mutuamente, e a lembrança-fantasma, materializando-se na sensação que lhe traz o sangue e a carne, torna-se um ser que viverá uma vida própria, um sonho.

29 août 2008

Devir-André-Estevão-Rogério-Girassol



Terra

Em golfadas envolve-me toda,

apagando as marcas individuais,
Devora-me até que eu

não respire mais..

Olga Savary

26 août 2008

Naquele exato momento

Naquele exato momento

Uma noite, você volta para casa e lhe dizem que veio uma pessoa à sua procura. Perguntou por você com certa insistência (...). O visitante não retorna. E, de repente, algum tempo depois, surge uma dúvida sutil: por acaso aquele homem (ou mulher) não teria vindo por um motivo grande e decisivo? Não poderia ser aquela, infelizmente, a ocasião com que você sempre sonhou e que teria transformado toda a sua existência? (...). Por uma estúpida coincidência você não compareceu ao encontro com o destino. Nunca mais o desconhecido apareceu. Entretanto, em algum canto da alma, ainda esperamos que volte.

(1906-1972) Dino Buzzatti
Naquele Exato Momento

25 août 2008

É noite.... Girassol.



É noite

É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou,fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.
(...)

Carlos Drummond de Andrade

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

Georg baselitz 95 28x20



II
O meu amor da vida está paralisado pelo teu sono
É como ave no ar veloz detida
Tudo em mim se cala para escutar o chão do teu regresso

III
Pois no ar estremece tua alegria
- Tua jovem riqueza de arbusto -
A luz espera teu perfil teu gesto
Teu ímpeto tua fuga e desafio
Tua inteligência tua argúcia teu riso

Como ondas do mar dançam em mim os pés do teu regresso

Sophia de Mello Breyner Andresen
O Nome das Coisas
Caminho

Eugenio Montale

Traz-me um girassol para que o transplante
no meu árido terreno
e mostre todo o dia
ao espelho azul do céu
a ansiedade do teu rosto
amarelento

Tendem à claridade as coisas obscuras
esgotam-se os corpos num fluir
de tintas ou de músicas. Desaparecer
é então a dita das ditas

Traz-me tu a planta que conduz
aonde crescem loiras transparências
e se evapora a vida como essência
Traz-me o girassol de enlouquecidas
luzes.

Eugenio Montale

Egon Schiele, Diário da Prisão

PRISÃO DE NEULENGBACH, 16 DE ABRIL DE 1912

Enfim! Enfim! Enfim! Enfim, um alívio para o meu sofrimento! Enfim papel, lápis, pincéis e tintas, para desenhar e escrever. Uma verdadeira tortura, estas horas selvagens, vagas, crueis, estas imutáveis, informes horas cinzentas e monótonas que tive de viver, privado de tudo como um animal, entre quatro paredes nuas e frias.
Um ser interiormente fraco, teria certamente começado a afundar-se e também eu teria enlouquecido, se esta estagnação se tivesse prolongado por mais tempo, dia após dia.
Assim, e não obstante sentir-me terrivelmente deprimido, arrancado ao campo da minha actividade, comecei, para não me afundar completamente, a pintar com os dedos trémulos , molhados na minha saliva amarga. Utilizando as manchas do reboco, tracei cabeças e paisagens nas paredes da cela. Depois observei como os desenhos se desvaneciam pouco a pouco empalidecendo até desaparecer, na profundeza da parede, como se tivessem sido apagados por uma mão invisível, dotada de um poder mágico.
Presentemente, Deus seja louvado, tenho de novo com que pintar e escrever. Finalmente restituiram-me o meu perigoso canivete. Posso manter-me ocupado e assim suportar o que doutra forma seria insuportável. Sinto-me humilhado, rebaixado, pedi, supliquei, mendiguei para conseguir estes objetos e chagaria mesmo a choramingar se necessário. Oh! Minha arte! Que não farei eu por ti!

Egon Schiele
Diário da Prisão

Ingmar Bergman


Pensando bem, também nós, seres humanos, somos em geral autênticas sinfonias de cheiros: cheiramos a pó de arroz, a perfume, a sabão para o rabo, a urina, a sexo, a suor, a pomada, a pornografia, a comida. É certo que, de um modo geral, a maioria de nós só cheira a gente, mas entre esses há os que cheiram a confiança, enquanto outros exalam ameaça.

Ingmar Bergman
Lanterna Mágica

Jardim de Rosas pt-1

Samobójstwo - Jeanne Hebuterne


A eternidade

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Como o sol que cai.

Alma sentinela,
Ensina-me o jogo
Da noite que gela
E do dia em fogo.

Das lides humanas,
Das palmas e vaias,
Já te desenganas
E no ar te espraias.

De outra nenhuma,
Brasas de cetim,
O Dever se esfuma
Sem dizer: enfim.

Lá não há esperança
E não há futuro.
Ciência e paciência,
Suplício seguro.

De novo me invade.
Quem? – A Eternidade.
É o mar que se vai
Com o sol que cai.

Arthur Rimbaud

Sidi Amar no Inverno

Penso que nunca vi o teu rosto
Num dia de chuva, quando as sombrias artérias do céu
Pulsam junto às árvores, e no teu coração
A água corre. Nunca te vi chorar
Com o monólogo da noite, com a tua mente resistindo ao silêncio.

Chegará o dia em que as linhas do céu
Se desprenderão das torres
E em que tu, que tremes pela noite
Partirás para os lugares sombrios ao lado de um desconhecido.

Paul Bowles, trad. José Agostinho Baptista

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana



24 août 2008

Cavalos azuis por um chão que flutua

Tower of Blue Horses
Franz Marc 1913


minha ansiedade derruba o cavalo, fica a cela montada ao vento....

Estevão


Ponta dos pés nos girassois de agosto.

Aleksandr Dovzhenko
meu corpo torto nos mil tormentos teus...
junto aos teus, os meus...
o nosso...
a tempestade...
estamos molhados.
ensopados
...

Estevão Mabilia Meneguzzo

Canção entre chocolates e morangos para flauta...

Kandinskychagall

turner

(ela, que negou a florafloramloramororr)rrrrr... - nós molhados!
...que a rosa e o rouxinol se compõem em amor, arte...
...mas neste mundo muitas vezes não se encontra o movimento, alguns-algo, alguns-nada, vazio... * Encontrar? são movimentos-composições também né?
....ou o rouxinol ao se entregar a rosa e furar seu peito em dor para que a rosa branca vire rosa vermelha amadurecendo flor no coração de uma dama rapaz-amada seria uma entrega eterna?
*Mesmo não sendo assim, são composições, não?
*Ex-!ternamente... In-!ternamente...
*Mesmo não sendo, existe amor, não?
...sangue... gaivóta.............. ufffffffffffffffffffffffffffff... chão frio, gelo e braço, bom!, dor, riso, amor. ...do coração da flor que retribui o grito-rouxinol-rapaz sobre um coração em desamor...
É seu pé? não... o teu... o meu? sim? não! é, é o meu, o seu, sim, o meu...
nosso.....
* Posso fazer a unha deste...?
.amanhã...
rosa-rouxinol que no luar flutua nas mãos de um amor.......mão-rosa-rouxinol-um-de-amor..,nasluar...mar
nós molhado(...) ado,nol,ros,u,dor,lar,cor,sol,oar,sonr,dmo.
...ei, vem... começou solaris...
e*verde, der, re, pantano...... não!
Trepliov, nina...
amor...
preciso de um passeio, uma hora...
veja os dentes de ludwig... veja! wilde?
wilde, alto, intensamente alto, ainda estamos juntos..
sente?
si,...
- acabo de acordar, trepliov se foi.

Estevão

21 août 2008

Pithecanthropus erectus

Rasga o meu coração
Crava as garras no meu peito
E esvai em sangue todo o amor
..........................-te




































Mulher
Mulher e as flores

Zirkus

promenade

Orpheus. 1913-1914.


Red Nude Sitting Up, 1908
Portrait of Vava, 1966

Le Quai de Bercy, 1953
Cemetery Gates, 1917, oil on canvas, private collection
The Juggler, 1943
White Crucifixion, 1938
The Praying Jew, 1923
The Watering Trough, 1925
In Front of the Picture, 1968-71
Rest, 1975
The Grand Parade, 1979-80
Bridges over the Seine, 1954
Exodus, 1952-66
The Rooster, 1929
Madonna of the Village, 1938-42
Bridges over the Seine, 1954

Dance, 1962-63
War, 1964-66
Green Violinist, 1923-24
The Painter to the Moon, 1917
Lovers with Flowers, 1927
Lovers in the Lilacs, 1930, oil on canvas
Chrysanthemums, 1926,
The Three Acrobats, 1926
Solitude, 1933
The Three Candles, 1938-40
Bouquet with Flying Lovers, 1934-47


(risos) A.
The Birthday, 1915




L'Envollovers in the moonlight