2 août 2008

Petites esquisses d'oiseaux (1985). 4. La grive musicienne [Yvonne Loriod]

* A arte conserva, e é a unica coisa no mundo que se conserva, conserva e se conserva em si. (Quid Juris), embora, de fato, não dure mais que seu suporte e seus materiais (quid facti?).

* Se a arte conserva não é à maneira da indústria, que acrescenta uma substância para fazer durar a coisa. A coisa tornou-se, desde o início, independente do seu "modelo", mas ela é independente também dos outros personagens eventuais, que são eles próprios coisas-artistas, personagens de pintura respirando este ar de pintura e ela não é dependente do espectador ou do auditor atuais, que se limitam a experimenta-la, num segundo momento, se têm força suficiente, ela é independente do criador... O que se conserva é um bloco de sensações, isto é, um composto de perceptos e afectos.

* Os perceptos não são mais percepções, são independentes do estado daqueles que experimentam.
* Os afectos não são mais sentimentos ou afecções, transbordam a força daqueles que são atravessados por eles.

As sensações, perceptos e afectos, são seres que valem por si mesmo e excedem qualquer vivido.
* A obra de arte é um ser de sensação, e nada mais: ela existe em si.

trechos:
* O ar guarda a agitação, o sopro e a luz que tinha, tal dia do ano passado, e não depende mais de quem o respirava aquela manhã.
* O que Cézanne criticava, nos impressionistas, era que a mistura óptica das cores não bastava para fazer um composto suficientemente sólido e durável como a arte dos museus", como a "perpetuidade do sangue" em Rubens: Conversations avec Cézanne. p. 121
* Mesmo o vazio é uma sensação, toda sensação se compõem com o vazio, compondo-se consigo, tudo se mantêm sobre a terra e no ar, e conserva o vazio, se conversa no vazio conservando-se a si mesmo.
* A sensação não é colorida, ela é colorante... (Cezanne)
* Artaud: Pintor, nada senão pintor, Van Gogh dominou os meios da pura pintura e não os ultrapassou... maos o maravilhoso é que este pintor só é pintor... é também, de todos os pintores natos, o que mais faz esquecer que temos a ver com a pintura.
* O objetivo da arte, com os meios do material, é arrancar o percepto das percepções do objeto e dos estados de um sujeito percipiente, arrancar os afectos das afecções, como passagem de um estado para outro. Extrair um bloco de sensações, um puro ser de sensações. Para isso, é preciso um método que varie com cada autor e que faça parte da obra.
* É verdade que toda obra de arte é um monumento, mas o monumento não é aqui o que comemora um passado, é um bloco de sensações presentes que só devem a si mesmas sua própria conservação, e dão ao acontecimento o composto que o celebra. O ato do monumento não é a memória, mas a fabulação.
* Para tanto é preciso não memória, mas um material complexo que não se encontra na memória, mas nas palavras, nos sons. "Memória eu te odeio".
* O Percepto é a paisagem anterior ao homem, na auscencia do homem.
Estrada Perdida: Conversamos sempre tão pouco mas com você existe uma intensidade linda, como se o silencio estivesse repleto de sensações, talvez seja teu sorriso nesta foto... nada melhor do que conversar no silencio.
* O homem inteiro, mas ausente na paisagem... Os personagens não podem existir, e o autor só pode criá-los porque eles não percebem, mas entraram na paisagem e fazem eles mesmos parte do composto de sensações.
ex 1: Ahab tem o percepto do mar, mas só porque entrou em relação com MobyDick que o faz tornar baleia e forma um composto de sensações que não precisa de ninguém mais: Oceano:
ex 2: É Mrs. Dalloway que percebe a cidade, mas poreque entrou na cidade, como "uma lâmina através de tudo", e se tornou ela mesma, imperceptivel.
* Os afectos são precisamente estes devires não humanos do homem, como os perceptos (entre eles a cidade) são as paisagens não humanas da natureza.
"Ha um minuto do mundo tudo passa", não o conservaremos sem "nos transformarmos nele"...
* Não estamos com o mundo, tornamo-nos com o mundo, nós nos tornamos, contemplando-o. Tudo é visão, devir. Tornamo-nos universo. Devires animal, vegetal, molecular, devir zero.

Lembrança: "O leopardo do Visconti onde é preciso mudar para permanecer o mesmo"

Cito Cezanne: "as granes paisagens têm, todas elas, um caráter visionário. A visão é o que do invisível se torna visível... a paisagem é invisível porque quanto mais a conquistamos, mais nela nos perdemos. Para chegar à paisagem, devemos sacrificar tanto quanto possível toda determinação temporal, espacial, objetiva; mas este abandono não atinge somente o objetivo, ele afeta a nós mesmos na mesma medida. Na paisagem, deixamos de ser seres históricos, isto é, seres eles mesmos objetiváveis. Não temos memória para a paisagem, não temos memória, nem mesmo para nós na paisagem. Sonhamos em pleno dia e com os olhos abertos. Somos furtados ao mundo ojbetivo mas também a nós mesmos. É o sentir".

* Como tornar um momento do mundo durável ou faze-lo existir por si?
VW: Saturar o átomo, eliminar tudo que é resto, morte e superfluidade, tudo o que gruda em nosas percepções correntes e vividas, tudo o que alimenta o romancista mediocre, só guardar a saturação que nos dá um percepto, "Incluir no momento o absurdo, os fatos, o sórdido, mas tratados em transparência". Colocar ai tudo e contudo saturar.

* Quando Proust parece descrever tão bem o ciúme, inventa um afecto porque não deixa de inverter a ordem que a opinião sõe nas afecções, segundo a qual o ciúme seria uma consequência infeliz do amor: para ele, ao contrário, o ciúme é finalidade, destinação e, se é preciso amar, é para poder ser ciumento, sendo o ciúme o sentido dos signos, o afecto como semiologia.

É de toda a arte que seria necessário dizer: o artista é exibidor de afectos, inventor de afectos, criador de afectos, em relação com os perceptos ou as visões que nos dá. Não é só na sua obra que os cria, ele dá-no-los e faz-nos devir com eles, fixa-nos no composto. Os girassóis de Van Gogh são devires, como os cardos de Dürer ou as mimosas de Bonnard. Redon intitulava uma litografia: «Houve talvez uma visão primeira experimentada na flor.» A flor vê. Puro e simples terror: «Vês este girassol que olha para o interior pela janela do quarto? Ele olha para dentro da minha casa todo o dia.»* Uma história floral da pintura é como a criação incessantemente iniciada e continuada dos afectos e dos perceptos de flores.
* Possivel por favor senão eu sufoco.
* Pensar é pensar por conceitos, ou então por funções, ou ainda por sensações e nenhum destes pensamentos é melhor que um ou outro.
* A filosofia faz surgir acontecimentos com seus conceitos, a arte ergue monumentos com suas sensações, a ciência constrói estados de coisas com suas funções

Vomitantes:
André Dhotel
Rameau
Emily Dickinson
Edith wharton
françois cheng
Kleist
Honoré Daumier
Odilon Redon
Mimosas de Bonnard
Durer
Giacometti
Frantisek Kupka


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