31 juil. 2008
Federico García Lorca
Ver-te despida é recordar a terra.
A terra lisa, limpa de cavalos.
A terra sem um junco, forma pura
ao futuro cerrada: confim de prata.
Ver-te despida é perceber a ânsia
da chuva a procurar um bébil talo,
ou a febre do mar de rosto imenso
sem encontrar a luz da sua face.
O sangue soará pelas alcovas,
chegará com espada fulgurante,
porém tu não saberás onde se esconde
o coração do sapo ou a violeta.
O teu ventre é uma luta de raízes,
os teus lábios, aurora sem contorno,
sob as cálidas rosas duma cama
os mortos gemem esperando turno.
Federico García Lorca
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