11 sept. 2008

PORQUE O AMOR É FORTE COMO A MORTE!

Esta espécie de aturdimentos em que acordamos todas as manhãs. Nada confirma melhor que o sono é uma experiência autêntica e como que o ensaio geral da morte. De tudo o que pode acontecer a quem dorme, o acordar é, decerto, aquilo que ele menos espera, aquilo que ele menos espera, aquilo para que está menos preparado. Nenhum pesadelo o choca mais do que esta brusca passagem à luz, a uma outra luz. Não há dúvida de que, para quem dorme, o sono é definitivo. A alma deixa o corpo num vôo rápido, sem se volver, sem espírito de regresso. Tudo esqueceu, tudo lançou ao nada, quando, de repente, uma força brutal a obriga a voltar, a vestir o seu invólucro, os seus hábitos, o seu caráter.
Assim, daqui a pouco, vou estender-me e deixar-me deslizar nas trevas para sempre. Estranha alienação. Quem dorme é um louco que se imagina morto.

(...)

Imaginei imediatamente um debate dramático entre esta força de vida - o indivíduo - e esta força de morte - o sexo. De dia, o indivíduo tenso, lúcido, recalca o indesejável, redu-lo, humilha-o. Mas, a coberto das trevas, de uma languidez qualquer, do calor, do torpor, desse torpor localizado, o desejo, levanta-se o inimigo prostrado, empunha a sua espada, simplifica o homem, fá-lo amante mergulhado numa agonia passageira, e depois fecha-lhe os olhos e o amante torna-se este pequeno morto, um ser que dorme, deitado sobre a terra, flutuando nas delícias do abandono, da renúncia de si, da abnegação.
Deitado sobre a terra. Estas quatro palavras saidas naturalmente da minha pena, são talvez uma chave. A terra atrai irresistivelmente os amantes enlaçados, cujas bocas se uniram. Embala-os depois do abraço, no sono feliz que segue à volúpia. Mas é também ela que envolve os mortos, que lhes bebe o sangue, que lhes come a carne, para que os orfãos voltem ao cosmos de que se tinham separado pelo espaço de uma vida. O amor e a morte, esses dois aspectos da mesma derrota do indivíduo, lançam-se, num impulso comum, no mesmo elemento terrestre. Um e outro são de natureza telúrica.

(...)

Toda esta história seria apaixonante se eu não fosse o único protagonista e se não a escrevesse com o meu sangue e com as minhas lágrimas:(...)

A curva dos teus rins é como um colar, obra do artista
O teu umbigo é taça torneada onde não falta o vinho aromatizado.
O teu ventre é um monte de trigo rodeado de lírios
(...)

A tua cintura lembra a palmeira, e os teus seios os seus cachos.
Disse: subirei à palmeira, apanharei os cachos.
Que os teus seios sejam como ps cachos de uvas, o perfume do teu hálito como o das maçãs e o teu palato como um vinho delicado.
(...)

Vem, ó meu bem-amado, vamos para os campos,
Passemos a noite nas aldeias
Logo de manhã iremos às vinhas, veremos se a vinha floresce
Se os botões se abriram, se as romãs estão em flor.
Aí te darei o meu amor,
As mandrágoras espalharão o seu perfume!

DEPOSITA-ME COMO UM SINETE NO TEU CORAÇÃO
COMO UM SINETE NO TEU BRAÇO
PORQUE O AMOR É FORTE COMO A MORTE!
(...)

A acalmar nela a sua angústia e o seu desejo.
(...)

Nota-se que as vegetações começaram a mudar, o gozo, nova planta, nova flor, e verificou que a sua barba, crescida ao longon da noite, havia começado a tomar raízes na terra.

André, começamos dia 18?

1 commentaire:

Filó a dit…

"falo amante mergulhado numa agonia passageira.."

Achei interessante essa parte...