3 sept. 2008

Gaivotas passeando pelos mundos possíveis

Pablo Picasso, Le Bagnanti, 1937

Laurie Anderson:
Let X-X
it tango
O Superman

Gaivoteando...

Nin: Homens, leões, águias e perdizes, cervos de grandes chifres, gansos, aranhas, peixes silenciosos que habitavam as águas, estrelas do mar e criaturas que os olhos não eram capazes de ver - em suma, todas as vidas, todas as vidas, todas as vidas, depois de concluírem seu triste ciclo, se extinguiram... Há muitos milhares de anos não existe mais uma única criatura viva sobre a terra e esta pobre lua acende sua lanterna em vão. No prado, os grous ja não despertam com um grito, nem-se ouvem os besouros nos bosques de tílias. Frio, frio, frio. Deserto, deserto, deserto. Horror, horror, horror.

[Pausa]

Nin: Os corpos dos seres vivos se desfizeram em pó e a matéria eterna os transformou em pedra, água, nuvens,e as almas de todos os seres vivos fundiram-se em uma só. A alma do mundo sou eu... eu... Em mim, habita a alma de alexandre o Grande, de César, de Shakspeare, de Napoleão e a alma da mais reles sanguessuga. Em mim, as consciências de todos fundiram-se com os instintos dos animais e eu me lembro de tudo, de tudo, e sinto em mim todas as vidas viverem de novo.

[Rebrilham fogos-fátuos no pântano.]

Nin: Estou só. Uma vez a cada cem anos, abro a boca para falar e minha voz ressoa neste deserto tristonho, mas ninguém escuta... E vocês, ó pálidas luzes dos fogos-fátuos, não me escutam... De madrugada, o pântano pútrido as traz ao mundo e vocês, pálidas luzes, vagueiam até a aurora, mas sem pensamentos, sem vontade, sem os tremores da vida. Receoso de que a vida irrompa em vocês, o pai da matéria eterna, o diabo, promove um fluxo incenssante de átomos, como acontece com as pedras e a água, e vocês são continuamente transformados. No universo, só o espirito permanece constante e invariável.

[Pausa]

Nin: Como um prisioneiro lançado num poço profundo e vazio, não sei onde estou e o que me espera. Para mim, só é claro que, na batalha encarniçada e cruel contra o diabo, orgem das forças materiais, estou destinado a sair vencedor, e, depois disso, a matéria e o espírito se fundirão em uma harmonia maravilhosa e terá início o reino da vontade universal. Mas isso só acontecerá quando, pouco a pouco, ao fim de uma longa série de Milênios, a lua, a luminosa Sírius e a terra se houverem transformado em poeira... Até lá, o horror, o horror...

[Falso Raccord]

Tre: Cada vez mais eme convenço de que a questão não consiste em formas novas e formas velhas, mas sim em que a pessoa escreva sem pensar em formas, sejam quais forem, que ela escreva porque isso flui livremente da sua alma..

Nin: Escute, é o vento? Eu sou uma gaivota...

Nin: Eu sou uma gaivota, não não é isso...
Nin: Eu sou uma gaivota, não não é isso...

Nin: Lembra-se? que você matou uma gaivota com um tiro? Um homem chegou por acaso, viu uma gaivota e, por pura falt ado que fazer, matou a gaivota... tema para um pequeno conto...

Nin: Não não me acompanhe, eu irei sozinha. Amo trigórin, não conte nada a ele, amo mais que antes, desesperadamente... homens, leões, águias e perdizes, milares, lanterna em vão.... os bosques.

BARULHO: PÁ

Fínicio.

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