31 mars 2009

“Quanto mais a mão é (...) subordinada, mais a visão desenvolve um espaço óptico “ideal”, e tende a perceber suas formas segundo um código óptico. Mas este espaço óptico (...) apresenta ainda referentes manuais com os quais ele se conecta: chamaremos tácteis estes referentes virtuais, como a profundidade, o contorno, o modelado, etc. Essa subordinação branda da mão ao olho pode dar lugar, por sua vez, a uma verdadeira insubordinação da mão: o quadro permanece uma realidade visual, mas aquilo que se impõe à visão, é um espaço sem forma e um movimento sem repouso que ela acompanha com dificuldade, e que desfazem a óptica. (...) Enfim falaremos de háptica cada vez que não houver subordinação estreita num sentido ou em outro (...), mas quando a visão por si mesma descobrirá em si uma função de tocar, que lhe é própria e não pertence senão a ela, distinta de sua função óptica. Diremos então que o pintor pinta com seus olhos, mas somente enquanto ele toca com os olhos. E, sem dúvida, essa função háptica pode ter sua plenitude diretamente e de uma vez só, em formas antigas cujos segredos estão hoje perdidos (arte egípcia). Mas ela pode também se recriar no olho “moderno” a partir da violência e da insubordinação manuais” (p. 99). Poderíamos assim ver na paixão pelo primeiro plano, pela visão em primeiro plano, que suprime a profundidade táctil-óptica, uma tentativa de instaurar uma ordem diferente da visão, “háptica”. Os primeiros planos de Vertov e Eisenstein, mas também os de Godard, com os traçados manuais de vídeo e as incrustações desfigurativas.

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