26 févr. 2009

Risos

O Rei ficou pálido e fechou bruscamente o caderno.
- Deliberem - disse aos jurados, em voz baixa e toda trêmula.
- Há ainda outras provas para examinar, Majestade - disse o Coelho Branco, saltando para perto do Rei o mais depressa que lhe foi possível. - Acabam de encontrar este papel no chão.
- O que há nele? - perguntou a Rainha.
- Ainda não o abri, mas parece ser uma carta escrita pelo acusado a ... alguém.
Deve ser assim, de fato - disse o Rei. - A menos que essa carta tenha sido escrita a ninguém, o que não é habitual.
- A quem é ela endereçada? - perguntou um dos jurados.
- Não há nenhum endereço, disse o Coelho Branco. - De fato, não há nada escrito do lado de fora.
E, desdobrando o papel, acrescentou:
- No final das contas, não é uma carta, é uma composição em versos.
- Estão escritos com a letra do acusado? - perguntou um outro jurado.
- Não, disse o Coelho Branco - e isso é o que há de mais esquisito em toda a história.
O Júri parecia estar muito confuso.
- É que ele imitou a letra de outra pessoa - disse o Rei.
O Júri acalmou-se imediatamente.
- Com perdão de Vossa Majestade - disse o Valete de Copas -, não fui eu quem escrevi esses versos e ninguém pode provar que fui, porque não há assinatura no fim.
- Se você não os assinou - disse o Rei -, isso agrava muito o seu caso. Então, sem dúvida alguma você tinha má intenção porque, se não tivesse, assinaria seu nome, como fazem as pessoas honestas.
A essas palavras, explodiram aplausos: era a coisa menos estúpida que o Rei tinha dito naquele dia.
- Isso prova amplamente a sua culpa - disse a Rainha.
- Isso não prova absolutamente nada - disse Alice -. - Francamente! Vocês nem sabem o que dizem esses versos!
- Leia-os, ordenou o Rei.
O Coelho Branco pôs os óculos:
- Por onde devo começar, por favor, Majestade? - perguntou.
- Comece pelo começo - disse o Rei com gravidade -, continue até chegar ao fim e chegando ao fim, pare.

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